Mensagem da Equipe

“Não somos o que sabemos. Somos o que estamos dispostos a aprender.” Council on Ideas

RESENHA DO FILME INCONSCIENTES

Inconscientes

Logo no início de Inconscientes (2004) os créditos dos atores aparecem com as letras invertidas que, num sincronizado baile alfabético, vagarosamente se corrigem. Uma brincadeira alusiva aos distúrbios cognitivos de linguagem, vindos da livre associação de idéias. Significantes que se perdem do seu contexto original e geram novos significados. Na gramática psicanalítica, não há "certo" e "errado" dentro desse parâmetro de análise, pois os lapsos da comunicação falada e escrita é que trazem as mais relevantes informações recônditas na couraça racional do cérebro humano.
Se mantivesse todo tempo esse clima lúdico, em que as incertezas e dubiedades trazem mais ganhos do que perdas, Inconscientes, novo longa do desconhecido diretor espanhol Joaquín Oristrell, até que seria um bom filme. Essa teatralização inicial carrega um caprichado colorido cenográfico, deixando bem claro se tratar de um filme de época e ao mesmo tempo mostrando sua preocupação em seduzir o espectador. A delicadeza das imagens que se contrapõe ao complexo e rebuscado jogo de palavras é tão sutil quanto irônica. No campo das interpretações, tudo está às avessas.
Estamos em Barcelona, 1913. Alma é uma mulher considerada avançada para os padrões de sua época. Seu marido, o psiquiatra Dr. León Pardo, é um seguidor fervoroso das recém-criadas teorias do Dr. Freud, que durante o verão anterior fez um estágio com o Dr. Freud e depois desse estágio nunca mais foi o mesmo. A alta sociedade médica está em polvorosa, pois o gênio da Psicanálise fará uma visita à cidade e irá trazer suas idéias revolucionárias para uma palestra.
León tem um irmão também psiquiatra, mas o oposto de sua personalidade. Salvador é tão conservador que acredita que os sentimentos não passam de distúrbio endocrinológico. Um dia, Alma encontra o esposo transtornado. Ele chora, diz coisas incoerentes e a abandona, grávida. Alma recorre a Salvador para reencontrá-lo. A única pista é um manuscrito sobre histeria e sexualidade feminina deixado por León, baseado em quatro pacientes:
• uma atriz com complexo de perseguição,
• uma psicótica que tenta matar o marido,
• uma mulher sexualmente indecisa,
• uma estranha que acaba de descobrir um terrível segredo sobre seu passado.
Os dois se transformam em detetives e embarcam numa aventura que mistura hipnose, amor, perigo – e todo tipo de tabus.
O que era pra ser uma inteligente comédia de erros torna-se um infame pega-pega. As teorias freudianas servem apenas de pretexto para o truncado jogo de gato-e-rato. O filme é pontuado por frases tiradas dos compêndios literários que indicam mudanças de passagem. Engraçadinho, até. Mas tudo muito nivelado por baixo, tornando-se difícil abstrair um conteúdo mais rico do que meras considerações edipianas baseadas em tratados folhetinescos sobre sexo. Sobram até tiradas constrangedoras, como uma abordagem nada subliminar ao tema do tamanho do órgão viril masculino.
O filme tem uma abordagem muito interessante, porque passa por questões que a sociedade precisa discutir de forma alegre. O humor criativo e a organização das cenas deixam o espectador atento e ansioso, porém por não ter uma fluência adequada na língua espanhola, os diálogos eram muitos acelerados. Por outro lado, acredito seja a falta de hábito. Os estudos da psicanálise sem as cortinas tradicionais, com casos como estes, onde o comportamento e a sexualidade são o binômio da discussão, traz para o público novos elementos revolucionários sobre as nuances do temido inconsciente, mesmo sabendo que o filme marca uma época de conflitos(1ª Guerra mundial), onde os indivíduos estavam a beira do seu próprio abismo, com incertezas a todo momento.
No final da trama o doutor León Pardo fica “meio louco” tem um surto ao descobrir verdades sobre sua vida. Com isso ele tenta matar Freud achando que seria um bem para a humanidade isso, mas ele acaba matando seu pai e a si mesmo. Sua mulher Alma vai para Argentina com seu ex cunhado e terminam juntos, aplicando na Argentina a doutrina da psicanálise.
Inconsciente – na teoria freudiana, o inconsciente propriamente dito consiste de processos reprimidos, exercendo pressão no componente consciente da mente do sujeito e modelando a sua vida cotidiana de modo substancial.
Histeria - Segundo a psicanálise freudiana é uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional. Os conflitos interiores manifestam-se em sintomas físicos, como por exemplo, paralisia, cegueira, surdez, etc. Pessoas histéricas frequentemente perdem o autocontrole devido a um pânico extremo. Foi intensamente estudada por Charcot e Freud.
Atos falhos ou sintomáticos - Os chamados atos sintomáticos são para Freud evidência da força e individualismo do inconsciente: e sua manifestação é comum nas pessoas sadias. Mostram a luta do consciente com o subconsciente (conteúdo evocável) e o inconsciente (conteúdo não evocável). São os lapsus linguae, popularmente ditos "traição da memória", ou mesmo convicções enganosas e erros que podem ter conseqüências graves.
Distúrbios cognitivos de linguagem - o problema da cognição a partir da clínica de pacientes que, em virtude de lesões cerebrais conseqüentes a traumatismos cranianos, tumores, acidentes vasculares, etc, apresentam danos cognitivos tais como distúrbios de linguagem, da memória, do gesto, do reconhecimento de rostos, de orientação no tempo e no espaço. Os distúrbios cognitivos atingem o sujeito em seu sentimento de identidade e de existência na medida em que tal sentimento é sustentado pela memória, pela imagem do corpo, pelo esquema corporal, pela relação com o espaço e a temporalidade, mas também pela continuidade da relação com o outro e pela manutenção dos processos de inter-reconhecimento entre si mesmo e o outro. Essas angústias primitivas, diz o autor, traduzem um fracasso da edificação do "self unitário", e acrescenta: "é a organização do eu que é ameaçada".
Sonho é uma experiência que possui significados distintos. Para a ciência, é uma experiência de imaginação do inconsciente durante nosso período de sono, definindo o conteúdo do sonho como “realização dos desejos”.